As trocas comerciais entre Brasil e Itália, em que o parceiro europeu acumula superávit de US$ 1,6 bilhão, dão destaque à importação brasileira de bens de produção - máquinas destinadas ao processamento de madeira e alimentos. Na direção contrária, 35% das exportações do País correspondem a commodities agrícolas.
A Itália em crise aproveita-se de uma vocação natural para o comércio exterior para reduzir o impacto da queda de seu consumo interno. O Brasil, nesse ponto, é uma prioridade do país mediterrâneo, cujo governo deve fomentar um investimento de cerca de US$ 1 bilhão, neste ano, neste antigo parceiro latino-americano.
Pelo menos cem empresas italianas de diferentes setores estão interessadas em investir no Brasil em 2013, de acordo com o líder do governo estrangeiro para a promoção de negócios no exterior, Riccardo Monti, que ontem foi de Brasília a São Paulo e concedeu entrevista exclusiva ao DCI.
"Neste momento, a única linha de desenvolvimento das empresas italianas é a internacionalização, com investimento direto nos grandes mercados", disse Monti. "O Brasil tem sido prioridade para essas empresas nos últimos três anos", acrescentou. No período, 500 companhias da Itália vieram ao País, somando-se a outras 300 já instaladas e atuantes.
Com retração de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) e de 5% do mercado doméstico - compensado por um crescimento de 4%, "quase milagroso", do comércio exterior -, em 2012 a Itália atende à demanda por equipamentos e máquinas, especialmente relacionados ao processamento de alimentos, no Brasil.
O país também explora o desenvolvimento econômico de regiões como o nordeste. A Fiat e a Piaggio, fabricante da motocicleta Vespa, têm investimentos empenhados em estados nordestinos - entre os quais Pernambuco -, segundo Monti.
"Em agronegócio, a Itália e o Brasil são muito complementares. A Itália é um grande importador de commodities alimentares e um grande exportador de alimentos processados, como a pasta [macarrão]. O forte nesse relacionamento é tudo o que se precisa para desenvolver a comida - food processing [processamento de alimentos], food packaging [embalagens]", acrescenta o agente do governo italiano.
A Agência para a Promoção no Exterior e a Internacionalização das Empresas Italianas (ICE), presidida por Monti, registra que a Itália exportou US$ 500 bilhões ao mundo em 2012, por meio de 200 companhias exportadoras de todos os portes e segmentos.
Em relação aos investimentos, a cada US$ 20 investidos no Brasil, a Itália recebe US$ 1 do parceiro comercial. "A maior dificuldade para investir no Brasil é a questão dos impostos", diz Monti.
Agregação de valor
O perfil exportador da Itália está se transformando: o empresariado italiano está deixando áreas que foram dominadas pela indústria asiática, especialmente a chinesa, para explorar novas áreas.
Um destes é o varejo: a exportação de alimentos industrializados deve passar de US$ 40 bilhões neste ano e dobrar até 2016, de acordo com Monti, que espera um superávit de US$ 13 bilhões em 2013.
"A Itália está subindo na cadeia de valor, exportando produtos com alto valor agregado. Assim, deixamos setores em que a concorrência asiática se tornou forte demais e crescemos em maquinário e no grande varejo internacional", analisa Monti.
Governo financia aportes
O governo italiano oferece financiamento de até 49% do valor total para investimentos externos. O empréstimos deve ser quitado em até oito anos. O comércio exterior italiano tem peso de 30% sobre o resultado do PIB nacional - sendo esta relação menor apenas do que a da Alemanha.
As relações comerciais da Itália estão ligadas à própria origem do capitalismo, no século dezesseis, quando das transações realizadas pelo país com o Oriente Médio através do Mar Mediterrâneo.Vale citar que o número de agências mantidas pelo ICE no mundo caíram de 93 para 60 com o avanço da crise econômica global.
Uma oportunidade logística
Monti afirma que já há empresas brasileiras estudando investimentos na Itália, a fim de aprimorar as exportações ao Oriente Médio. O presidente da ICE, contudo, não revela quais são esses potenciais investidores.
"O Brasil, no futuro, deve se instalar na Itália para servir melhor ao mercado europeu e ao Oriente Médio. A Itália tem uma boa capacidade de exportação, e o próximo investimento brasileiro deve ser a compra de empresas existentes, nos setores logístico e industrial", ele diz.
"O Brasil vai se industrializar rapidamente, e precisa se instalar na Europa para lidar melhor com o mercado médio-oriental", sugere Monti. "No Oriente Médio vivem 800 mil pessoas que estão a duas horas e meia de avião da Itália", realça.
Fonte: Diário do Comércio e Indústria